
Memorial COVID-19 da Fiocruz
Tipologia
Concurso de Projeto
para Memorial da Fiocruz
sobre a COVID-19
Projeto
2024
Localização
Rio de Janeiro/RJ, Brasil
Área
2.503 m²
Autoria
Carolina Moreth
Gabriela Cascelli
Gabriel Solórzano
Rodrigo da Cruz
Colaboradores
Gustavo dos Santos
Imagens
Gustavo dos Santos
MEMORIAL CURATORIAL
Atravessar a neblina me lembrou da nossa conversa na cozinha logo que cheguei do trabalho. Naquele dia, a gente ria e o arroz queimava. Depois você descrevia, com cara de paisagem, o prato como tendo notas defumadas. Estava tudo bem, vivíamos a ilusão da estabilidade, mas nada é assim tão garantido.
De repente os dias se tornaram indistintos, congelados pelo tempo. As paredes que nos eram abrigo começaram a nos comprimir. Nessa hora me dei conta da saudade que dá uma cadeira de bar. Nesse ponto, já um percurso interrompido, fora do cotidiano.
Uma ruptura na vida como a gente conhecia. Sem opção, a gente inventava. Tinha dia que você fazia da casa um museu. Afinal, a janela da sala mais parecia uma pintura que não podemos tocar do que o mundo lá fora.
Esse cheiro de terra me faz lembrar da parte mais difícil. Dizem, que na vida a gente também tem que saber esquecer, mas algumas cenas são reais demais, impregnam a memória. Resta digerir, absorver a parte que falta.
O som da água é como um sussurro seu me dizendo o quanto a vida é tênue. Não nos damos conta até que a fragilidade nos toque à porta. De onde vem a esperança nessa hora?
O murmúrio da televisão do quarto, palavras soltas de pesquisa, avanço, vacina. A cada sílaba eu ouvia um ponteiro de relógio. A exaustão dando lugar à esperança. Eu quero isso agora! Paciência, você dizia. Vai chegar nossa hora.
Por pouco não pude te ver esticar o braço para uma seringa cheia de alívio. Não pudemos nem nos despedir. Tenho apenas minha vida de volta, mas te sinto na brisa, te ouço nas folhas. Você adoraria esse lugar.
MEMORIAL ARQUITETÔNICO
A proposta arquitetônica concebida para o “Memorial Fiocruz Covid-19 - Ciência e Saúde” evoca as principais etapas e sensações vividas no período da pandemia, a partir da criação de um percurso contemplativo que culmina em um jardim interno.
Entre duas empenas de concreto aparente elevadas do solo, o visitante percorre o trajeto, tendo em diferentes momentos, uma reflexão. Nomeados como “Incerteza”, “Ausência”, “(cons)Ciência” e “Reconexão”, elaboram diferentes articulações dos elementos arquitetônicos e paisagísticos, sugerindo diferentes sensações ao visitante.
A topografia original foi trabalhada para gerar um caminho acessível e suave desde a entrada, onde uma grande parede organiza os acessos. O terreno alcança seu nível mais baixo no espaço expositivo. O nível constante das empenas de concreto e a declividade do trajeto geram diferentes relações de escala. O paisagismo se insere sutilmente pelas visuais abaixo das vigas, oferecendo variação e dinamismo à experiência, contando uma história ora exuberante, ora árida.
O projeto não se revela totalmente pelo do lado externo; é necessário vivenciá-lo para compreendê-lo. O momento “Incerteza” inicia o caminho com vistas para um espaço progressivamente mais estreito e escuro. Uma laje faz a transição para o momento “Ausência”, onde se reverencia os mais de 700 mil mortos na pandemia. O momento “(cons)Ciência” revela-se em descida ao espaço expositivo, onde o esforço da coletividade e da ciência é celebrado no enfrentamento da Covid-19. Por fim, a abertura de uma das empenas convida ao momento “Reconexão”, onde se tem acesso ao jardim interno, ao espelho d’água e à contemplação da paisagem, símbolo do retorno à vida.

